Druot de Focherville caminhava por uma França
ainda-por-vir. [De fato, a Toulouse e a Carcassonne que cascavilhava naqueles anos 700 ainda pouco passavam de
promessas e casebres]. Um inevitável poema
[em toscos eneassílabos] guardou a memória do Peregrino. Falavam que parecia
viver em um tempo só dele, depois da
vida pessoal; que vestia uma [esperavelmente] surrada capa salmão; que uma conveniente ventania parecia preceder a cada
uma de suas aparições; que suas orações pareciam suspender a passagem do tempo; e que sua
gula [anteriormente destinada aos faisões ao
molho menta e aos vinhos fermentados da Beócia, para não mencionar jovens
libertinas de alvas carnes] hoje se voltava às penitências com chicote.
Outro lado [talvez mais obscuro] não restou [no entanto]
inteiramente na sombra. Édipo sem
cegueira, o Peregrino nunca cessou de vergastar desde a usura até as sedas,
numa incessante crítica a todos
e tudo. Não deixou de ter os usuais inimigos, que [numa avant-première da Santa Inquisição]
conseguiram arrastá-lo para uma fogueira, em um não definido ano, em um dia que
a tradição [sem nenhuma prova] jura ser nove de novembro.
Não deixou palavras nobres que dessem um fim à sua
peregrinação [para não pequena decepção dos heresiófilos]. Quedou dele apenas a
cara de espanto, a mesma que fazia nas caminhadas pelas pequenas vilas de uma
França ainda inexistente – como se de uma surpresa
por o mundo ser como é.
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