Por setenta vezes [dizem] os cavaleiros duelaram. [Na
verdade foram apenas quatro vezes: mas podiam ser sete mil, o número não
mudaria em nada o prélio largamente fake].
O campeonato [chamemo-lo assim] reuniu todos os ingredientes das histórias de fada: passava-se
na Idade Média; em um meio-dia temperado por uma tempestade que, embora vizinha,
nunca chegava; suas capas laranja [tão
inexpressivas quanto a luta em si] traziam um desbotado que denotava uma pós-velhice, como se os lutadores [de
idade indefinida] tivessem passado da longevidade sem se lambuzar da sabedoria
a esta normalmente atribuída.
Os cavaleiros não se odiavam. Tão semelhantes, pareciam
ser o mesmo [viviam no ócio, mal sabiam garatujar o nome, violavam pré-adolescentes
e apostavam corridas destruindo a colheita dos coitados]. Por parecidos
procuravam radicalizar suas diferenças: um dizia ser o defensor dos pobres; outro, que mudaria tudo. [Não defendia nada, não mudaria coisíssima – todos fingiam,
ninguém acreditava, mas seguiam a fingir].
Buscavam a
fama [dizem – talvez nem isso]. Lutavam sem Ira
[ou com Ira fingida]: Budas sem
serenidade, para uma eterna plateia que desprezavam [ou talvez nem chegassem a
desprezar].
Sua popularidade [se é que se pode falar disso] baseava-se
no terror que infundiam aos humildes
– de que o outro [ao vencer] faria com eles tudo o que [todos sabiam] qualquer
um dos dois [inevitavelmente] faria.
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