Napoleão [dizem] não acabou em Waterloo. [Na verdade
acabou em Santa Helena, e um grupo radical diz que não acabou mesmo]. Romance sem amor [embora com cenas dignas da
velha Boca do Lixo] a napoleônica vida teve tudo em abundância [exceto
solidariedade para com o próximo, dizem os eternos opositores]. O próprio Napoleão
semelhava um protagonista de enredo longe da perfeição: na casa dos quarenta, obcecado pela sua fama futura, considerando-se [não
sem inverossimilhança] sacrificado como Cristo
e eternamente invejoso do Imperador Carlos
Magno, parecia um ser isento de qualquer sentimento de culpa [embora certos testemunhos
sinalizem que tal não seja inteiramente verdade].
Esse Napoleão [que dizem que sobreviveu à ilhota no meio
do Atlântico] aparece sempre [nos poucos retratos a respeito] sempre em um
[pouco saudável] tom amarelo, parecendo
divagar fora do tempo [e parecendo fazê-lo sempre por longo período], com uma paisagem
[um tanto pueril] de nuvens
pesadas por trás ao horizonte.
O baixinho [chamemo-lo assim] não temia os ingleses, ou
russos, ou o punhal de algum solitário conspirador: temia o que poderia ter sido,
pois, se o fosse, não teria as mordomias das quais gozava [isso, é claro,
segundo os inimigos, que não perdiam ocasiões de mostrá-lo sempre desprezível].
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