O improvável nome de Rehmahn Karamchuk abrigava o homem
que [dizem] precedeu o método cartesiano em cerca de mil anos. Habitante de país
esquecido da Ásia Central, o sábio sobrevive [além de pedaços de tiras de
pergaminho] em três pinturas de inusitado
tom sépia quase vermelho [de fato apenas
uma, estando as demais quase indistinguíveis].
Inevitáveis lendas cercam sua vida: de que escreveu sua
obra em apenas três horas [algo
fisicamente impossível]; de que suas noções básicas já estavam em sua grandiosa
mente antes mesmo dele nascer;
de que sua tendência ao estudo se devia a uma repelência a mulheres [com
outra corrente afirmando o oposto – que colecionava amantes]; e que, quando
meditava, caía neve sobre sua cabeça
[um detalhe que não deixa de ter ares de comicidade].
De fato, esse pouco conhecido quase-profeta [espécie de Tirésias sem deuses para aturar] sofria
de uma vontade de devorar o mundo – se não
com os dentes [o que com improvável surpresa
verificou ser impossível] com o conhecimento.
Não o fez [no entanto] com os chatíssimos silogismos que
caracterizaram seu sucessor – e sim com uma aceitação do mundo comum é – como caos,
balbúrdia que pode ser vista como ordem, pois as tentativas de pôr nele ordem
apenas concluem por acrescentar mais balbúrdia ao que era confuso. Descartes o
admirava e [no fundo] se remoía por seu inspirador ter compreendido o universo
bem melhor que ele – embora tal versão não seja isenta de opositores.
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