O Ensaio Da
Prematura Velhice dos Povos na verdade consistia numa foto – publicada em inverossímeis tons azuis (foscos de fim
de manhã) na capa do Le Petit
Parisien naquele bem pouco conveniente primeiro de setembro de 1939 – o dia em que os panzers rolaram sobre a Polônia. Representava
uma colina [iniciada por um berço e terminada em um túmulo] a qual os povos
supostamente deveriam subir e descer.
Um povo [convenientemente sem nome] percorria o tal
caminho, representado por um idoso tão idoso que parecia viver depois do tempo. Nuvens de tempestade [mas
de aspecto (curiosamente) pouco ameaçador decoravam o horizonte]. Édipo sem tragédia, percorria seu caminho
com uma indiferença tão profunda
que ultrapassava a nonchalance da
maior fatia dos indiferentes.
Interpretações [como sempre] pulularam. O velho [o povo,
na verdade todos os povos] desejava
mais a desgraça dos outros que a própria ventura. Acima do progresso,
movia-o a inveja [o que abriu uma pouco
produtiva discussão sobre onde principiava uma e terminava a outra].
A principal polêmica [no entanto] consistiu em afirmar que
o autor daquela fotografia fora na verdade Oswald Spengler – embora o profeta
da decadência inelutável das civilizações já estivesse então morto havia já
bons três anos – mas isso em nada impediu os polemistas.
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