Ernesto Geisel olhos azuis e cabeleira
branca dizia boa noite para a lente da câmera e na rua República do Líbano em
uma Fortaleza muito distante eu recebia a saudação como para mim. Pai, mãe, irmãs
– todos dormiam e eu ficava a assistir seus discursos no canal Dez. Foi o
primeiro Presidente do qual lembro claramente o rosto. O General falava firme, mas
de vez em quando com um perceptível sorriso.
Foi ele quem me trouxe a impressão –
que se corporifica bem longe, nas fotos do Monte Rushmore [aquela montanha na
pedra na qual se esculpiram as efígies de Washington, Jefferson e Lincoln]. A
de um Presidente como um grande Pai. Sólido, Digno, Sério, Confiável. Até um
pouco distante. Alguém diante de quem se tem um sentimento de reverência, e ao
mesmo confiança.
O Tempo e muitos outros presidentes
passaram e leituras posteriores me mostraram que nem mesmo o General Geisel da
vida tinha muita congruência com o Presidente Geisel dos pronunciamentos de fim
de noite. Mas ficou a imagem.
A qual insiste em bater de frente com notícias
de jornal, imagens de TV e notas de internet: os Pais de Todos não são gente
com a gente – são certo tipo de gente: têm amigos com contas bancárias questionáveis,
ouvem tramoias sem erguer a sobrancelha e se pelam de medo de um ou outro juiz.
E eu me torno de novo menino de 14
anos, a pensar que no mundo pontificavam adultos sóbrios, às vezes até duros,
porém dignos.
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