Paulo Avelino
Fomos tão felizes em Berlim
E parecia que a Keithstrasse dançava sob nosso pés
[uma rua sem importância, na qual Heinrich Heine nunca
passou
- mas a Heinrich não lhe agradavam as cidades
E em Berlim não há ruas sem importância].
Passeávamos pela Praça
Potsdam, Under den Linden, Wittenbergplatz
Os nomes sonoros e cidade vazia [Berlim é sempre vazia –
onde estão os três milhões de habitantes?].
O vazio se enchia de nós
Eu sem nenhuma vontade de ler Kant
Tu com jeito de eterno sorvete de morango.
Bertold Brecht cruzou conosco duas vezes [juro]
Em alguma esquina perto da Rua Frederico
E Goethe [o cavalheiro de sempre]
Fez sinal por nós para o 165 parar
O ônibus 165 que nos salvou quando gelávamos no Monumento
ao Soldado].
Na Torre da Vitória não subimos
E na Brandenburger Tor não vimos
Ninguém a não ser nós mesmos
Um ao outro, e o espectro de algum maestro ou metafísico
A passar ao nosso lado
[Beethoven ou Schiller, quem se importa?].
Fomos tão felizes em Berlim
E parecia que a U-Bahn tinha sido feita especificamente para
nós
E [esparramados no gramado na Praça da Catedral]
O Altesmuseum nos sorria.
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