Amália reza
ajoelhada na Igreja das Mercês. Reza: Faça
com que eu goste do Dr. Ricardo. Faça-me gostar da pessoa certa.
Amália tem
vinte e oito anos. O Dr. Ricardo tem
quarenta e nove e se chama Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva. Quem
conheceu Portugal até poucos anos atrás lembra-se de ter visto as fachadas
verdes do BES – o Banco Espírito Santo – em não poucas esquinas. O Banco era da
família dele. Desnecessário mais falar sobre sua ótima situação financeira.
Amália canta
desgraças de amor e simplicidade da vida do campo e na cidade lusitana, Minhos
e Alfamas; in a word, canta fados. E
não só: Amália Rodrigues mantém sólido o título de maior fadista de sempre. Não
era pobre – já cumulava discos e paradas musicais não só na velha pátria como
no Brasil e alhures. Ao contrário dele, nascera sem folga monetária.
A romancista Sônia
Louro coloca esta cena tanto improvável como romântica na nonagésima página do
seu Amália, a biografia romanceada da
fadista. Quase como de praxe, a família da cantora tentou bloquear a exibição do
filme Amália (2009), alegando que a
relação entre a artista e o banqueiro não era bem assim.
Algo que sem
ele metade dos romances do século XIX não sairia nem das prensas nem das
canetas, desde Ana Karênina até as Memórias
Póstumas passando por Eugênia Grandet: o aforismo Ninguém controla o coração. Amália controla sua preciosíssima
garganta mas não seu órgão pulsante ao peito. Daí o drama. Dramalhão, talvez. Nem
por isso menos importante para quem passa por ele. Até cantoras famosas a quererem
se apaixonar por banqueiros.
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