.

.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

A Segunda Vida de Maria Bolkhonsky

Leon Nicolaievich Tolstoi criou uma Maria Bolkhonski. Tivesse criado duas, a segunda viveria hoje.
Maria Bolkhonski se via feia. Ao ver-se feia pensava que nunca teria namorado. Não tendo namorado não teria marido. Não tendo marido nunca poderia realizar aquele ritual primitivo para o qual são necessários dois e que tanto queria realizar. [Sem nada pensar a respeito – estávamos em 1812].

Maria Bolkhonski hoje se veria feia. Contrataria um personal: levantamento terra, metabólico com pancadas de arrebentar a parede, supino inclinado com alternância no gravitron. Injetaria 300 mililitros de silicone – ou 400 se quisesse realmente ser a alma da festa. Sugaria a gordura dos lugares errados e a acumularia nos lugares certos. Técnicas corretas aumentariam os lábios e alongariam as sobrancelhas, além de triplicarem o comprimento do cabelo.

As saias encurtariam, as barras das calças jeans almejariam rastejar ao chão e assim equipadíssima [a fazer dupla com uma amiga não tão cintilante] iriam a um bar-da-moda, sempre no balcão, a pedir um daiquiri ou royale, coquetel de moça. Ou aos swipes à direita do Tinder. Ou a um aniversário da prima da amiga, onde sempre se pode encontrar algum sobrinho da vizinha da ex-cunhada.

Maria Bolkhonski hoje com o tal sobrinho replicaria as técnicas do curso de strip – a técnica exata de desatar o fecho do sutiã, o timing de fazer voar a cinta-liga.

Mas Maria Bolkhonski não era de hoje – e ficou a esperar alguém a pedi-la em matrimônio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário