Leon Nicolaievich Tolstoi criou uma Maria Bolkhonski. Tivesse
criado duas, a segunda viveria hoje.
Maria Bolkhonski se via feia. Ao ver-se feia pensava que nunca
teria namorado. Não tendo namorado não teria marido. Não tendo marido nunca
poderia realizar aquele ritual primitivo para o qual são necessários dois e que
tanto queria realizar. [Sem nada pensar a respeito – estávamos em 1812].
Maria Bolkhonski hoje se veria feia. Contrataria um personal:
levantamento terra, metabólico com pancadas de arrebentar a parede, supino inclinado
com alternância no gravitron. Injetaria 300 mililitros de silicone – ou 400 se
quisesse realmente ser a alma da festa. Sugaria a gordura dos lugares errados e
a acumularia nos lugares certos. Técnicas corretas aumentariam os lábios e
alongariam as sobrancelhas, além de triplicarem o comprimento do cabelo.
As saias encurtariam, as barras das calças jeans almejariam
rastejar ao chão e assim equipadíssima [a fazer dupla com uma amiga não tão
cintilante] iriam a um bar-da-moda, sempre no balcão, a pedir um daiquiri ou
royale, coquetel de moça. Ou aos swipes à direita do Tinder. Ou a um
aniversário da prima da amiga, onde sempre se pode encontrar algum sobrinho da
vizinha da ex-cunhada.
Maria Bolkhonski hoje com o tal sobrinho replicaria as técnicas
do curso de strip – a técnica exata de desatar o fecho do
sutiã, o timing de fazer voar a cinta-liga.
Mas Maria Bolkhonski não era de hoje – e ficou a esperar alguém
a pedi-la em matrimônio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário