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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Catherine e os dois Renoir

A artrite reumatoide a fazer desastres nas mãos de Pierre-Auguste – e mesmo assim aos 75 anos ele ainda pintava, às vezes com bandagens para segurar os pincéis.

O mundo em guerra (era 1916) e o inimigo tentou matar seu filho Jean, como fazia com todos. Não conseguiram – mas abriram-lhe um rasgão na coxa que o levou a vol-tar para convalescer em casa – muletas e antisséptico todos os dias.

Neste péssimo momento veio uma garota chamada Catherine Hessling.

Era uma beleza profissional – uma modelo. Viera recomendada pelo já celebérrimo Matisse.

Beleza profissional e profissional desinibição – sua função básica era ficar nua pela casa, para que o velho a pintasse.

Triângulo amoroso bem diferente do esperável - Pierre-Auguste via a garota como um objeto estético – pouco mais que uma bela árvore ou um fascinante pôr-do-sol com um par de seios dos quais ele era confesso admirador.

O garoto de vinte e dois anos e de muletas não a via dessa forma.

No começo ela repelia o rapaz – a ele e à sua falta de traquejo.

Depois passaram a conversar na relva – e o velho em banhos quentes levado por suas muitas criadas para amenizar as dores.

Ela sumiu da vida dos dois, deixando-os a sonhar com os seios dela – o velho a querer transpô-los para telas coloridas e o filho talvez a querer fazer outras coisas.

Pouco depois Pierre-Auguste morreu e se tornou Renoir – do impressionismo e dos quadros a encher os bolsos dos marchands.

Catherine voltou e casou com o filho.

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