A artrite reumatoide a fazer desastres nas mãos de
Pierre-Auguste – e mesmo assim aos 75 anos ele ainda pintava, às vezes com
bandagens para segurar os pincéis.
O mundo em guerra (era 1916) e o inimigo tentou matar seu
filho Jean, como fazia com todos. Não conseguiram – mas abriram-lhe um rasgão
na coxa que o levou a vol-tar para convalescer em casa – muletas e antisséptico
todos os dias.
Neste péssimo momento veio uma garota chamada Catherine
Hessling.
Era uma beleza profissional – uma modelo. Viera recomendada
pelo já celebérrimo Matisse.
Beleza profissional e profissional desinibição – sua função
básica era ficar nua pela casa, para que o velho a pintasse.
Triângulo amoroso bem diferente do esperável - Pierre-Auguste
via a garota como um objeto estético – pouco mais que uma bela árvore ou um
fascinante pôr-do-sol com um par de seios dos quais ele era confesso admirador.
O garoto de vinte e dois anos e de muletas não a via dessa
forma.
No começo ela repelia o rapaz – a ele e à sua falta de
traquejo.
Depois passaram a conversar na relva – e o velho em banhos
quentes levado por suas muitas criadas para amenizar as dores.
Ela sumiu da vida dos dois, deixando-os a sonhar com os
seios dela – o velho a querer transpô-los para telas coloridas e o filho talvez
a querer fazer outras coisas.
Pouco depois Pierre-Auguste morreu e se tornou Renoir – do
impressionismo e dos quadros a encher os bolsos dos marchands.
Catherine voltou e casou com o filho.
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