Tímidos, Ana Luísa, e caseiros.
Apesar disso [ou por causa] nós nos casaríamos. Sua mãe nada lhe diria – só de
que os homens de tudo sabem. E eu não saberia de nada – as piadas de tios me
enojariam e nunca teria ido a profissionais [menino encabulado que sempre fui].
Tiraríamos licença matrimonial [eu do
meu emprego de gerente do posto de gasolina e você de seu cargo de professora].
Cruzaríamos a praça em frente à Igreja [pois todo casal tímido se casa em
igrejinha no interior] e nos veríamos em frente ao padre [aquele padre de idade
mandatória nunca inferior a oitenta anos]. Diríamos sim [tua mão gelada na minha
idem] e eu não saberia se deveria enfiar a língua no momento do Podem se
beijar [como já teríamos feito por três vezes quando sua tia afrouxou a
vigilância]. Na festa os docinhos e sorrisos não apagariam a lembrança de que
teríamos algo a fazer.
E esse algo a fazer [mil e duas vezes
ensaiado na minha e na sua imaginação] surgiria [na mesma noite ou na manhã
seguinte, em hotel de colchas amarelas ou creme-claro] depois do muitas vezes
antecipado banho – primeiro eu, depois você, nós dois fechando ridiculamente a
porta do banheiro por puro hábito – não vá ninguém me ver pelado.
Coração dando pulinhos, você sairia
[é nunca ou agora] e abriria o roupão do hotel – a mostrar a capacidade de
decisão que me fez lhe escolher – e a mostrar não só isso mas também tudo o
mais – tudo o que não estiver coberto pela dourada aliança que lhe darei.
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