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segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Tímidos, Ana Luísa

Tímidos, Ana Luísa, e caseiros. Apesar disso [ou por causa] nós nos casaríamos. Sua mãe nada lhe diria – só de que os homens de tudo sabem. E eu não saberia de nada – as piadas de tios me enojariam e nunca teria ido a profissionais [menino encabulado que sempre fui].

Tiraríamos licença matrimonial [eu do meu emprego de gerente do posto de gasolina e você de seu cargo de professora]. Cruzaríamos a praça em frente à Igreja [pois todo casal tímido se casa em igrejinha no interior] e nos veríamos em frente ao padre [aquele padre de idade mandatória nunca inferior a oitenta anos]. Diríamos sim [tua mão gelada na minha idem] e eu não saberia se deveria enfiar a língua no momento do Podem se beijar [como já teríamos feito por três vezes quando sua tia afrouxou a vigilância]. Na festa os docinhos e sorrisos não apagariam a lembrança de que teríamos algo a fazer.

E esse algo a fazer [mil e duas vezes ensaiado na minha e na sua imaginação] surgiria [na mesma noite ou na manhã seguinte, em hotel de colchas amarelas ou creme-claro] depois do muitas vezes antecipado banho – primeiro eu, depois você, nós dois fechando ridiculamente a porta do banheiro por puro hábito – não vá ninguém me ver pelado.

Coração dando pulinhos, você sairia [é nunca ou agora] e abriria o roupão do hotel – a mostrar a capacidade de decisão que me fez lhe escolher – e a mostrar não só isso mas também tudo o mais – tudo o que não estiver coberto pela dourada aliança que lhe darei.

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