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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Fiódor em Itarema

Dostoievsky nunca esteve em Itarema, e se tivesse estado, sairia do escaler que o trouxe do barco à vela [afinal estávamos em 1861], tiraria o casaco de pele de lontra que o deixava aquecido contra as geleiras do Rio Neva [embora talvez já o tivesse tirado ao se aproximarem do trópico], e colocaria as chinelas de pescador.

Por falar em pesca, Fiódor subiria em uma jangada [depois da segunda maré alta] e com os companheiros de roupão marrom e samburá na proa arrastaria pargos e cavalas para a areia [além de alguma lagosta naqueles tempos de pouca devastação ecológica], não sem antes abri-las ao meio [sem nenhuma piedade vegetariana] e jogar as vísceras no mar.

Mikhailovitch olharia as ondas, e pensaria [entre um gole e outro de branquinha] como o sol sempre nasce e se põe todos os dias, e [filosófico] criaria alguma piadinha infame sobre a efemeridade do Mundo, pois tudo passa, até uva passa.

Fiódor Mikhailovitch Dostoievsky esqueceria o rio Neva e a falta de sentido de Tudo [pois navegaria no rio Mundaú, e nele tudo faz sentido]. Velhas usurárias e assassinatos de família lhe pareceriam distantes com o outro lado da serra da Ibiapaba. Arranjaria uma morena [cabelo nos ombros liso de velhas tribos indígenas], teriam quatro filhos e o final dessa história seria muito feliz – nada a ver com os Irmãos Karamazov.

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