Dostoievsky nunca esteve em Itarema,
e se tivesse estado, sairia do escaler que o trouxe do barco à vela [afinal
estávamos em 1861], tiraria o casaco de pele de lontra que o deixava aquecido
contra as geleiras do Rio Neva [embora talvez já o tivesse tirado ao se
aproximarem do trópico], e colocaria as chinelas de pescador.
Por falar em pesca, Fiódor subiria em
uma jangada [depois da segunda maré alta] e com os companheiros de roupão
marrom e samburá na proa arrastaria pargos e cavalas para a areia [além de
alguma lagosta naqueles tempos de pouca devastação ecológica], não sem antes
abri-las ao meio [sem nenhuma piedade vegetariana] e jogar as vísceras no mar.
Mikhailovitch olharia as ondas, e
pensaria [entre um gole e outro de branquinha] como o sol sempre nasce e se põe
todos os dias, e [filosófico] criaria alguma piadinha infame sobre a
efemeridade do Mundo, pois tudo passa, até uva passa.
Fiódor Mikhailovitch Dostoievsky
esqueceria o rio Neva e a falta de sentido de Tudo [pois navegaria no rio
Mundaú, e nele tudo faz sentido]. Velhas usurárias e assassinatos de família lhe
pareceriam distantes com o outro lado da serra da Ibiapaba. Arranjaria uma
morena [cabelo nos ombros liso de velhas tribos indígenas], teriam quatro
filhos e o final dessa história seria muito feliz – nada a ver com os Irmãos
Karamazov.
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