Revolucionários [Tássia], tu de boina
e casaco marrom-escuro [Petersburgo julho de 1917] – pois toda revolucionária
russa usa casaco marrom-escuro [além das tranças louras pelos ombros]. Serei
Nicolaievich ou Danilov [o que importa?] e pelos meus óculos redondos verei o
mundo se transformar. Verei também [Tássia] tu despida de todo preconceito
burguês [e também de qualquer estola, pulseira ou lingerie] e pela janela
inclinada do pequeno sótão [pois todo parzinho revolucionário mora em sótão]
veremos as faixas vermelhas a pedir os costumeiros pão e liberdade.
Minhas mãos rodearão tua cintura e se
encontrarão no teu umbigo [eu também já tendo jogado ao chão não só a falsa
consciência de classe mas também tudo o mais] e sendo nós dois Adão e Eva sem
Bíblia [pois este é um livro mentiroso destinando a amortecer a luta do
proletariado] eu te pedirei em casamento. E antes que respondas que esta
instituição é uma inaceitável falácia da pequena burguesia eu te adiantarei que
pedirei a algum camarada do Politburo para que nos una [talvez aquele careca
cujo nome começa com L].
Tu me dirás que antes precisa ser
convencida das minhas intenções revoltosas e eu te mostrarei como são firmes e
profundas as minhas convicções proletárias, e cada vez mais firmes e profundos
faremos movimento dialético, com cada vez maior ânimo, visando a chegar ao
ápice insurrecional.
Lá fora a multidão gritará mas
[abraçados e dormindo] nada ouviremos. Até a Revolução também exige pausa.
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