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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Revolucionários, Julho de 17

Revolucionários [Tássia], tu de boina e casaco marrom-escuro [Petersburgo julho de 1917] – pois toda revolucionária russa usa casaco marrom-escuro [além das tranças louras pelos ombros]. Serei Nicolaievich ou Danilov [o que importa?] e pelos meus óculos redondos verei o mundo se transformar. Verei também [Tássia] tu despida de todo preconceito burguês [e também de qualquer estola, pulseira ou lingerie] e pela janela inclinada do pequeno sótão [pois todo parzinho revolucionário mora em sótão] veremos as faixas vermelhas a pedir os costumeiros pão e liberdade.

Minhas mãos rodearão tua cintura e se encontrarão no teu umbigo [eu também já tendo jogado ao chão não só a falsa consciência de classe mas também tudo o mais] e sendo nós dois Adão e Eva sem Bíblia [pois este é um livro mentiroso destinando a amortecer a luta do proletariado] eu te pedirei em casamento. E antes que respondas que esta instituição é uma inaceitável falácia da pequena burguesia eu te adiantarei que pedirei a algum camarada do Politburo para que nos una [talvez aquele careca cujo nome começa com L].

Tu me dirás que antes precisa ser convencida das minhas intenções revoltosas e eu te mostrarei como são firmes e profundas as minhas convicções proletárias, e cada vez mais firmes e profundos faremos movimento dialético, com cada vez maior ânimo, visando a chegar ao ápice insurrecional.

Lá fora a multidão gritará mas [abraçados e dormindo] nada ouviremos. Até a Revolução também exige pausa.

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