Dos quinhentos e nove e nove braços
de Ishtar, ela precisou apenas de dois. A deusa do Amor e da Antiga Suméria
abraçava o Mundo Inteiro [e os baixios do Tigre e do Eufrates, o que na época
significava a mesma coisa] apenas com seu direito e seu esquerdo, as mãos a se
encontrar em fecho a semelhar bronze e lápis-lazúli. Como as muralhas de Ur,
seu abraço protegia a todos e acariciava o horizonte.
Dos mil e noventa e nove seios de
Ishtar, ela precisou apenas de dois, na verdade um – o único que entremostrou
no decote de seda a Gilgamesh. [Gilgamesh, herói, sangue de nove mil búfalos e
mais inimigos da Suméria abatidos]. O Guerreiro embainhou a espada, guardou o
escudo, e [súbito menino] aninhou-se ao seio da deusa [bem próximo do bico cor
de rosa da deusa] e esta lhe contou do panteão celestial dos deuses [deuses
generosos embora às vezes um tanto bobinhos] e de como eles [de maneira bem
pouco condizente para com seu status celestial] sentiam inveja dos
humanos.
Dos Cinco mil e cinquenta passos que
Ishtar deu ao lado de Gilgamesh, contaram apenas os últimos, nos quais ela
estendeu a mão e ele, que caminhava tímido à distância [afinal era uma deusa]
atreveu-se a ficar ao lado dela.
Dos muitos gritos que Ishtar e
Gilgamesh encenaram em coro [afinal ninguém se preocupou em contá-los]
importaram todos eles [o rosto do herói enterrado nos cabelos negros da deusa].
E depois de tudo [muito depois] ela o enlaçou e contou histórias como as que se
contam para colocar meninos para dormir.
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