Filhos de Utnapishtim, não seremos
[minha cara Innana] realmente filhos dele. Seremos [em verdade] tataranetos
[eu, Enkidu], o que é altamente conveniente para evitar parentescos por demais
próximos e os consequentes problemas de ordem legal.
Descendentes de heróis mas não os
próprios, teremos de batalhar um pouquinho pelo que eles têm de graça. [Meus
bíceps, minha cara Innana, não provieram de algum Olimpo mas de horas de
musculação, além de uma admirável pequena fortuna em suplementos de whey em pó
– e nunca saberei se esses teus lábios matadores legítimos
starlet-de-ruliúde vieram da bênção de certa Afrodite suméria ou de algum
preenchimento labial].
Viveremos no topo do mundo e
navegaremos no largo mar da vida e nada disso é metafórico: moraremos em cimo
de zigurat de onze andares e as costumeiras enchentes da Mesopotâmia
verdadeiramente nos darão muitas oportunidades para a prática do iatismo [nem
que seja por falta de alternativa].
Parentes de deuses [embora sem sê-lo]
dedicaremos nosso limitado tempo [eu, Enkidu; tu, Innana] a procurar formas de
passar nosso limitado tempo. E o resolveremos da forma mais óbvia: rastejarei
por cima de ti [ou por baixo], trocaremos de posição, ou tu é que
serás zigurat a erguer-se meio-segura sobre o solo que serei eu, para
recomeçar de novo. E faremos tudo mais três ou trezentas vezes, em completo e
Eterno Retorno [que não será mito] até que os deuses nos chamem.
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