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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Retorno quase Eterno

Filhos de Utnapishtim, não seremos [minha cara Innana] realmente filhos dele. Seremos [em verdade] tataranetos [eu, Enkidu], o que é altamente conveniente para evitar parentescos por demais próximos e os consequentes problemas de ordem legal.

Descendentes de heróis mas não os próprios, teremos de batalhar um pouquinho pelo que eles têm de graça. [Meus bíceps, minha cara Innana, não provieram de algum Olimpo mas de horas de musculação, além de uma admirável pequena fortuna em suplementos de whey em pó – e nunca saberei se esses teus lábios matadores legítimos starlet-de-ruliúde vieram da bênção de certa Afrodite suméria ou de algum preenchimento labial].

Viveremos no topo do mundo e navegaremos no largo mar da vida e nada disso é metafórico: moraremos em cimo de zigurat de onze andares e as costumeiras enchentes da Mesopotâmia verdadeiramente nos darão muitas oportunidades para a prática do iatismo [nem que seja por falta de alternativa].


Parentes de deuses [embora sem sê-lo] dedicaremos nosso limitado tempo [eu, Enkidu; tu, Innana] a procurar formas de passar nosso limitado tempo. E o resolveremos da forma mais óbvia: rastejarei por cima de ti [ou por baixo], trocaremos de posição, ou tu é que serás zigurat a erguer-se meio-segura sobre o solo que serei eu, para recomeçar de novo. E faremos tudo mais três ou trezentas vezes, em completo e Eterno Retorno [que não será mito] até que os deuses nos chamem.

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