Descartes e a
impossibilidade do Caos
Difícil imaginar um ser humano
menos caótico que o baronete Renato Descartes nascido em La Haye em 1596 e
falecido apenas cinquenta e quatro anos depois. Seus livros, as Regras para a direção da mente, o Discurso do Método, são claros, lógicos,
gostosos de ler, copos d´água límpida. E talvez como consequência, são curtos.
Neste mundopensamento de lógicas
o Caos entrou de forma talvez previsivelmente enviesada. No capítulo V de O Discurso do Método Descartes se
referiu a um outro livro seu – o pretensiosamente denominado O
Mundo. Na verdade referiu-se sem nem mesmo informar seu título – O Mundo não tinha sido publicado pelo
temor que Descartes tinha da Inquisição. Ele soubera do julgamento de Galileu e
partilhava com este a pouca disposição em se tornar churrasquinho.
O Mundo resolve o problema do caos na prática negando sua
existência. Parte do pressuposto de que existem leis da natureza, por Deus
criadas. Então formula a hipótese se Deus tivesse criados todas as coisas
misturadas e as jogado no mundo. As próprias leis fariam com que as águas se
juntassem em certos lugares, os planetas se formassem – e tudo seria exatamente
como é hoje.
O Caos cartesiano sofre portanto
a doença da sua impossibilidade. Claro, o francês estava totalmente imerso em
um mundo histórico, tendo em vista que o cristianismo é em sua essência
histórico, com começo na Criação Divina e um final no Julgamento. A existência
de um Caos sequer era uma possibilidade para ele, como o era para as
Cosmogonias primitivas.
O Terror da possível inexistência
do Cosmos inexiste para Descartes. Para ele o Universo existe, existe tal como
é, e é inevitável que exista desse modo. Um pensamento desconfortável para quem
não aprecia o mundo como o é. Mas que não deixa de ser tranquilizador.