Bündchen, Birkheuer, Hickmann, Zimmermann – o filósofo
Macaco Simão diz que vendo os nomes das modelos brasileiras parece o que o país
foi colonizado pelos vikings. Mas não foram os nomes germanizados que me fizeram
lembrar outro alemão, tão branco e de olhos azuis como as estimadas senhoras
acima listadas, mas com outras preocupações.
Jorge Guilherme Frederico Hegel ao escrever sobre o também
germaníssimo João Cristóvão Frederico Schiller citou um poema deste que em um
verso menciona o tranquilo
reino-das-sombras da beleza. Fazia a distinção entre o mundo Ideal e o
mundo Real – na verdade um estranho e necessário pulo dentro de sua acrobática
filosofia englobante de (quase) tudo. Pra Hegel, a beleza consiste na
objetivação do Ideal – e o Ideal não existe no mundo que nós vemos e ouvimos e
cheiramos e mordemos, o impropriamente denominado “mundo real” com direito a
muitas aspas.
O “real” oculta o verdadeiro real – ou ao menos não consiste
nele. E nós humanos, selves, somos
sedentos de real, pois só nele criamos uma consciência de nós mesmos. Há três
formas de atingir o real – a religião, a filosofia e a que nos interessa aqui –
a arte. A arte envolve a questão do belo. E o belo envolve o quê?
Envolve uma relação entre sujeito e o objeto. Um adolescente
cheio de hormônios e uma dessas modelos brasileiro-alemoas, por exemplo. O
sujeito pode tentar contatar o objeto pela teoria. (Meio inverossímil dentro
desse exemplo, mas vá). Há problema: para entender o real, o sujeito deve
despir-se de si mesmo e seguir dócil o objeto – perder sua liberdade, por assim
dizer. É o objeto que prepondera. Ou o sujeito pode usar o objeto para seus
fins. Nesse caso, o pobre objeto perde sua liberdade.
Sempre alguém ou algo se dará mal. Há uma forma de se
superar isso – pelo objeto belo. Ele objetiva o Ideal - e com isso escapa da armadilha uso-ou-sou-usado.
E é livre de qualquer necessidade de agradar. O belo é livre – talvez seja o
único verdadeiramente livre. Não depende de ninguém, não existe para satisfazer
a ninguém.
E as distintas senhoras citadas no começo e as milhões de meninas
que disputam seu espaço e que o tomarão, cedo ou tarde, pois o tempo passa? Vejamos.
Em cada uma, em toda e cada dessas modelos uma urgência impera – a de agradar. Uma
modelo precisa ser desejada-e-invejada. A indiferença é um veneno antimodelo. Pode-se
dizer tudo de uma modelo – menos que ela é indiferente. Tudo nelas é para-o-outro:
cabelos, chapinhas, bermudas, poses, iluminação, photoshop e remédios para
emagrecer. A roupas mudam, os corpos mudam – o silicone faz isso – tudo visa a
atrair o outro.
Então as modelos não são bonitas? Bem, elas não são o Ideal
na externalidade. Ao não sê-lo, não são objetos belos, sem desconsideração. São
o quê? Objetos utilitários, talvez. Ou com certeza. Visam a vender, promover,
excitar e provocar inveja, na ordem ou não. Hegel não as conheceu. O desafio de
entendê-las (e a nós) cabe a nós mesmos, selves
de hoje.
A ler:
Na foto de capa – Letícia Birkheuer