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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Apontamentos para uma impossível história do Caos - IX


Descartes e a impossibilidade do Caos

Difícil imaginar um ser humano menos caótico que o baronete Renato Descartes nascido em La Haye em 1596 e falecido apenas cinquenta e quatro anos depois. Seus livros, as Regras para a direção da mente, o Discurso do Método, são claros, lógicos, gostosos de ler, copos d´água límpida. E talvez como consequência, são curtos.

Neste mundopensamento de lógicas o Caos entrou de forma talvez previsivelmente enviesada. No capítulo V de O Discurso do Método Descartes se referiu a um outro livro seu – o pretensiosamente denominado  O Mundo. Na verdade referiu-se sem nem mesmo informar seu título – O Mundo não tinha sido publicado pelo temor que Descartes tinha da Inquisição. Ele soubera do julgamento de Galileu e partilhava com este a pouca disposição em se tornar churrasquinho.

O Mundo resolve o problema do caos na prática negando sua existência. Parte do pressuposto de que existem leis da natureza, por Deus criadas. Então formula a hipótese se Deus tivesse criados todas as coisas misturadas e as jogado no mundo. As próprias leis fariam com que as águas se juntassem em certos lugares, os planetas se formassem – e tudo seria exatamente como é hoje.

O Caos cartesiano sofre portanto a doença da sua impossibilidade. Claro, o francês estava totalmente imerso em um mundo histórico, tendo em vista que o cristianismo é em sua essência histórico, com começo na Criação Divina e um final no Julgamento. A existência de um Caos sequer era uma possibilidade para ele, como o era para as Cosmogonias primitivas.

O Terror da possível inexistência do Cosmos inexiste para Descartes. Para ele o Universo existe, existe tal como é, e é inevitável que exista desse modo. Um pensamento desconfortável para quem não aprecia o mundo como o é. Mas que não deixa de ser tranquilizador.

Um comentário:

  1. Paulo, gostei muito dessa série de artigos. Você tem uma versão editada com todos? Acho que merece virar um artigo numa revista. Gostaria de mostrar esse texto a um amigo que está escrevendo um livro sobre a filosofia budista.

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