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domingo, 4 de agosto de 2013

Microensaios de noite de domingo - Hipnose, versão pós-moderna

Li/Vi na Internet e divido com vocês



Hipnose, versão pós-moderna

A Performance Audiovisual (Pav) mistura. E mistura tudo. Epígono da geleia geral, nela batem ponto a escuridão e a luz, o som suave e o abrupto, a tecnologia e a sociabilidade. (Afinal a boa Pav não é gravada – o artista tem de estar lá osso e carne nos controles, o público a vê-lo).

Difícil defini-la e melhor não tentar. Costumam apresentá-la em bienais de arte – principalmente naquelas que ostentam a mágica palavra digital. Consiste em uma sala quase sempre escura, um público na incerteza do que vai ver, um ou dois performers no comando de uma mesa eletrônica – e súbitos sons e imagens em ritmo se projetam sobre uma tela.

O Brasil diz presente na Pav – entre eles o meu velho professor Fernando Velazquez. Escolhi um trabalho do também brasileiro Raimo Benedetti (que um portal definiu como um low-tech geek – talvez uma saída para geeks terceiro-mundistas).

Raimo trabalha (em parte) com formas quadrangulares – o que se vê na segunda parte (Métricos) da performance Modulações - Modulazioak que produziu com o basco Xavier Erkizia. Trata-se de um trabalho soft como geralmente são as produções de Raimo, sem sons agressivos. Chama a atenção a qualidade hipnótica da primeira parte, denominada Barras.

A Pav junta elementos do pós-moderno. Pode-se discutir seu conteúdo – o que ela quer transmitir, e mesmo se ela quer transmitir.  Como (quase) tudo na tecnologia audiovisual, ela puxa sempre para o presente – e faz especular sobre o futuro.


Até domingo!

terça-feira, 24 de julho de 2012

George Santayana responde a três perguntas


Leio Jorge Agustín Nicolás Ruiz de Santayana y Borrás, o George Santayana, nascido na Espanha, crescido nos EUA, mas que escolheu viver e morrer na Europa quando teve dinheiro para tanto. Discípulo indireto e distante dos grandes pragmáticos estadunidenses William James, John Dewey e Charles Sanders Peirce, mas discípulo o suficiente para encaixar no pragmatismo uma vertente estética. Ele o fez no livro “O Senso da Beleza”, seu primeiro, e pelo verbete da Wikipedia considerado o seu melhor. Livro de 1896, resume aulas que deu quando professor de Harvard. Depois o renegaria, chamá-lo-ia de potboiler, bobagem. Bem, nessa bobagem, a qual não acho que seja, procuro ajuda para responder a três perguntas:

a)      Essas manifestações estéticas autônomas que vemos na internet, e que se pretendem artísticas, são mesmo arte?

b)      Em caso afirmativo, são boa arte?

c)       Em novo caso afirmativo, elas podem ser uma forma de apreciação e congraçamento entre pessoas, e não meramente mais um meio de produzir mercadorias, no caso, mercadorias simbólicas?

Perguntar é fácil. Responder é que é.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Humano Caspar David Friedrich


Pintou-o de 1823 ao ano seguinte. Contradições: esse quadro selvagem, ele o fez quando estava mais feliz, recém-casado, e cores leves invadiram suas telas.

Caspar David Friedrich pintou paisagens e – dizem – melancolia. Nem tanto – mais que melancolia, pintou sua vida, de baixos e altos. Romântico na arte e na vida fora dela.

Em suas paisagens o homem é um detalhe. Observador abestalhado diante da ferocidade e da beleza da natura. Às vezes o observador nem existe no quadro - somos nós.

O naufrágio do Esperança marca o fim da própria, trazida pela Revolução Francesa aparentemente vencida pela reação pós Waterloo. É o que dizem uns intérpretes.

O gelo esmaga o navio. Impessoal, zomba do humano. Humano, amargo e romântico Caspar David Friedrich.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Vlaminck, muscular


Maurício de Vlaminck pintava muscularmente – era o que dizia. Buscava o choque – vivia na era eduardiana, na qual os pianos de cauda tinham saias, pois algum@ maluc@ achou que pernas de piano eram sensuais.

Incendiarei a escola de Belas-Artes – gritava, e seus gritos eram só retórica de manifesto artístico. Ou nem tanto. Incendiava com as tintas que mal saíam da bisnaga – azuis e vermelhos puríssimos.

Liderou os fauvistas. Um de seus liderados ficou bem mais conhecido – Henri Matisse, e este reconhecia Vlaminck como líder.

Herdeiro de outro que deixou tudo pela arte – Gauguin, o homem do Taiti. Arte intuitiva, queriam e fizeram.

Com vocês, o “Restaurante em Marly”, de Vlaminck. 

terça-feira, 10 de julho de 2012

Digitais ou o vazio


AS HUMANIDADES SERÃO DIGITAIS OU NÃO SERÃO NADA, diz Laura Borràs com o doce radicalismo dos recém-chegados.

Recém-chegada não somente ela, mas todos os que anteveem uma literatura ou arte feita no computador e que só possa ser apreciada no computador.

Tem currículo. É diretora do talvez único centro universitário do mundo a estudar a literatura digital, o Hermeneia, na agora semidestruída-pelos-bancos Espanha. E apesar ou por causa, de nada sabe – o futuro, sabemo-lo na medida em que for acontecendo.

Fundamenta a distinção entre literatura digital e digitalizada. Ler as Memórias Póstumas em pdf, além de bom gosto, é literatura digitalizada, não digital.

Pode-se dizer: a literatura digital será o futuro, ou não será nada, e essa incerteza já é característica dela.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Edgar Allan Poe - estilo Literatura Digital


A Arte Estenográfica Ascii constrói textos codificados dentro de imagens. Um exemplo é o portal de Vicente Chu (http://pictureworthsthousandwords.appspot.com/).

Talvez uma saída para um dos becos-sem-saída mais complicados da arte – passar uma mensagem em um nível e contradizê-la em outro. Pela ironia, pelo simbolismo.

Esse tipo de Arte Digital permite a resolução de tal dilema pelo código: um texto pornográfico pode compor uma imagem de santo. Um manifesto comunista pode ser a aparente base da imagem de um político liberal.

Edgar Allan Poe escreveu A Carta Roubada – era tão explícita, tão clara, que os detetives não suspeitaram dela.

A Arte Estenográfica Ascii pode fazer o mesmo – o texto claro e ao mesmo tempo escondido em uma imagem sua contraditória.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Apontamentos para uma impossível história do Caos - VI


Aquele-que-está-distante


Utnapishtim detona a narrativa da Epopeia de Gilgamesh principalmente na tabuinha XI. A Epopeia e parte das crenças bíblicas: uma busca pela Internet mostra discussões se Noé é na verdade um Utnapishtim requentado.

Utnapishtim vive na Boca-dos-rios. Vive longe – daí o apelido Aquele-que-está-distante. Gilgamesh o encontra, intenta lutar com ele mas o vê igual a si e seus braços quedam imóveis. Encontro nada casual – Gilgamesh, rei de Uruk, quer o não-morrer. Ouviu dizer que Utnapishtim, Aquele-que-está-distante, arrancou dos deuses a imortalidade. A tabuinha XI é a história de Utnapishtim.

Que semelha a de Noé. Ele recebe aviso dos deuses de que uma enchente reduzirá tudo a barro. Deve salvar a si e a poucos humanos e animais. Recebe instruções, constrói uma arca quadrada de sete andares – semelhante a um zigurate, um templo sumério que liga a terra ao céu. Ao final de dias de chuva solta vários pássaros, até que se convence de que é seguro sair. Os deuses conferem a ele a imortalidade, e ordenam a ele viver na Boca-dos-rios.

Utnapishtim indica a Gilgamesh como encontrar a planta da imortalidade. Este desce ao fundo do mar para encontrá-la, mas uma cobra a toma dele. Gilgamesh volta Uruk, da qual é rei, e reforça as muralhas da cidade – ou seja, decide ser o melhor rei possível enquanto vive.

Não se espere sofisticações literárias da Epopeia de Gilgamesh – a arte da escrita era ainda bebê, se tanto. Mas encerra lição – a importância da despreocupação com aléns – o que não significa que não existam, e a necessidade de se viver o já. Talvez seja esse o segredo de Utnapishtim, Aquele-que-está distante.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Resenha de Filme: Sonhos de Akira Kurosawa



Oito episódios de cinema, oito histórias compõem um dos últimos filmes do cineasta. Já era festejadíssimo, Hollywood tinha lhe dado um Oscar por conjunto de carreira e o filme é produzido por Spielberg.

Sonhos nem sempre têm final e seu ritmo é irregular. O mesmo nos episódios. Destaco alguns. No primeiro, um menino vê um casamento de raposas em dia de sol com chuva – mostra que o dito sol e chuva, casamento de raposas é universal. Serve de capa para o filme e é de grande beleza plástica, lembrando o pintor que o cineasta queria ser.

Mais interessante é o episódio O Túnel. Um antigo comandante tenta convencer a seus soldados que eles estão mortos. Interessante a falta de reações estereotipadas – os soldados fantasmas não assombram, não tentar vingar-se nem odeiam. Apenas melancolizam.

Dois episódios deixam clara a preocupação ecológica, especialmente quanto a catástrofes em usinas nucleares – O Diabo chorando e Monte Fuji em vermelho. O primeiro não deixa de ter certa influência da visão do Inferno de Dante. O diabo é patético, quase tanto quanto o ser humano. Note-se a presença de problemas de agora – o diabo quando humano costumava jogar leite e batatas fora para aumentar os preços. O segundo prefigurou o desastre de Fukushima – a pequena ilha japonesa tomada pela radiação, sem saída para seus habitantes.

O último episódio resume o pensamento do autor sobre a vida – A Vila dos Moinhos de Água. A vida valendo por si mesma, o passar dos anos, de maneira honrada e laboriosa, já sendo em si um grande mérito. São os pensamentos de um idoso a um visitante.

Impressiona na obra de Kurosawa a falta do amor romântico. Mal existe, talvez apenas no rápido romance do samurai jovem com a camponesa em Os Sete Samurais. Os grandes sentidos da vida não passam em primeiro lugar pelo romantismo. Por outro lado, há uma preocupação com o comunitário. A solução do burocrata condenado de Viver (1952) não foi se apaixonar – ele se dedicou à sociedade. Talvez algo a ensinar ao individualismo do Ocidente, que no máximo se estende em uma comunidade de dois. Não uma solução a dois, mas a muitos, pode ser a saída.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nota sobre Dim Brinquedim – artesão popular moderno



Dim Brinquedim faz brinquedos. Brinquedos interessantes – diferentes dessas baratitudes vulgares chinesas. Seus brinquedos lembram tempos de antes, tradição, tempo de meninos brincarem entre si e com os avós. A estrada da Coluna em Pindoretama leva a seu museu-parque. É município pegado a Fortaleza. Mais que dos brinquedos, escrevo do artista.

Na imagem em geral dos artesãos populares sempre faltam alguns dentes, arrancados pela idade e pela falta de recursos. O artista do povo é geralmente aquela pessoa idosa, descoberta muito tarde, que pouco conhece além da sua esquina e do que aparece no Jornal Nacional. Frequentemente seu conhecimento da língua portuguesa é distante da perfeição e nem tudo do que fala se entende.

Dim Brinquedim tem página no Facebook, planos para um parque, vende seus produtos em loja no Rio. Já morou lá. Conhece secretários de cultura e já participou de programas de governo.

O artesão popular do futuro talvez imite pessoas como Dim Brinquedim. O artista do povo do futuro possivelmente será assim, articulado, consciente da necessidade da participação estatal na arte e do poder da rede de computadores. Como o artista de Pindoretama.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Duas notas sobre Kurosawa



Akira Kurosawa em entrevista a Nagisa Oshima em 1993 já no final falou o que aconselharia aos aspirantes a diretor. Disse que hoje era preciso muito mais dinheiro para se fazer um filme, portanto era mais difícil. Mas se realmente o quisessem, deveriam começar escrevendo roteiros. Citou Balzac – que afirmou que o duro era passar pelo aborrecimento de escrever uma palavra por vez. Para o cineasta nipônico, era preciso escrever muito, até que escrever se tornasse não sacrifício mas rotina. E para escrever era necessário ler. Os jovens não leem muito – quem diz isso é um japonês. A criação é memória. Não se tira nada do nada.

Perguntado sobre o sucesso dos filmes no exterior, disse que nunca quis agradar plateias estrangeiras. Se colocasse elementos exóticos japoneses, não as agradaria. Seus filmes falam dos problemas do povo japonês, e os problemas de todas as pessoas são iguais. Por isso fazem sucesso.

Observações a serem vistas com cuidado por quem deseja uma arte brasileira, universal e boa, tudo ao mesmo tempo agora.